
por Ricardo F. Ramos
BAIRRO DO PARI UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO EM TRANSIÇÃO
O Pari, um dos bairros mais tradicionais de São Paulo, está vivendo um momento de profunda transformação que muitos moradores e historiadores descrevem como o fim de uma era. Conhecido por sua rica história, suas casas antigas e uma comunidade que preservava os valores de vizinhança e tradição, o bairro está sendo gradativamente engolido pelo avanço comercial, impulsionado pela proximidade com o Brás, um dos maiores polos de comércio popular do Brasil.
UM BAIRRO HISTÓRICO EM RISCO
Localizado na região central da capital paulista, o Pari foi, por décadas, um lugar onde famílias construíram suas histórias. A Igreja Santo Antônio, marco do bairro, testemunhou casamentos, batizados e celebrações que uniam a comunidade. As ruas, antes cheias de crianças brincando e vizinhos conversando nas calçadas, agora são dominadas por caminhões de carga e armazéns.
Os moradores mais antigos, que deram vida e alma ao bairro, estão sendo substituídos por comerciantes e investidores. Muitos desses antigos residentes decidiram vender suas casas devido à especulação imobiliária e à dificuldade de manter um estilo de vida tradicional em meio ao caos urbano crescente.
A INVASÃO DO COMÉRCIO
O avanço do comércio do Brás para o Pari é apontado como o principal responsável pela descaracterização do bairro. Galpões e depósitos ocupam as áreas que antes eram residenciais, e as ruas pacatas agora enfrentam trânsito intenso e agitação constante. Pequenas lojas familiares, antes parte da identidade local, estão sendo substituídas por grandes atacadistas.
“Já não reconheço o bairro onde nasci”, lamenta Dona Maria de Lourdes, de 84 anos, que mora no Pari desde 1950. “Aqui era tranquilo, todos se conheciam. Hoje é barulho o dia inteiro, e ninguém para mais para conversar.”
A PERDA DA IDENTIDADE
Para muitos, o fim do Pari não é apenas a transformação física do bairro, mas a perda de sua identidade cultural e social. O espírito de comunidade que outrora reinava está desaparecendo à medida que novos moradores, focados no comércio, ocupam o espaço.
Alguns tentam resistir, preservando casas antigas e promovendo encontros entre os antigos moradores, mas essas ações têm se mostrado insuficientes frente ao ritmo acelerado das mudanças.
UMA DESPEDIDA AMARGA
O portão simbólico do Pari parece estar fechando. Para muitos, a sensação é de que o bairro não será mais o mesmo. Apesar disso, a história do Pari não será esquecida. Suas memórias permanecem vivas naqueles que ainda caminham por suas ruas, relembrando os bons tempos de um bairro que um dia foi um refúgio em meio à agitação da cidade.
A comunidade, a tradição e as histórias que fizeram do Pari um bairro único podem estar desaparecendo, mas para quem viveu ali, o Pari sempre será mais do que um endereço – será um pedaço de suas vidas.