
por Ricardo F. Ramos – Gazeta do Pari
Respeito se conquista com diálogo, não com distorções linguísticas
Nos últimos anos, passou a circular com frequência o uso de palavras como “todes”, “elu”, “amigue”, entre outras variações chamadas de “linguagem neutra”. A proposta, segundo seus defensores, seria incluir pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino. No entanto, é preciso deixar claro: essa forma de linguagem não existe na gramática oficial da língua portuguesa.
O português é uma língua estruturada com base em regras gramaticais reconhecidas e consolidadas. O plural “todos” sempre foi, e ainda é, o uso gramatical correto para abranger um grupo misto de pessoas. Alterar isso por questões ideológicas não torna a mudança legítima no âmbito da norma culta.
O termo “todes” não consta no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras, nem em nenhum dicionário formal da língua. O mesmo vale para termos como “elu” e “amigue”. Não são reconhecidos pelo sistema educacional brasileiro, nem fazem parte do ensino oficial.
Vários estados e municípios, inclusive, já aprovaram leis que proíbem o uso da chamada “linguagem neutra” em documentos públicos e escolas, por entenderem que ela foge ao padrão linguístico e pode prejudicar a alfabetização e o entendimento formal da língua.
E se a biologia fala mais alto que a ideologia, vale lembrar um fato irrefutável:
Nem mesmo a morte reconhece outro gênero além de masculino ou feminino.
A ciência forense, ao identificar um cadáver ou um esqueleto humano, sempre determina: sexo masculino ou feminino.
Não existe “todes” nos ossos, nem na estrutura óssea, nem no DNA. A biologia continua sendo clara onde a linguagem é distorcida.
Mais do que isso, essa imposição artificial de linguagem pode gerar confusão, dificultar a comunicação e criar divisões desnecessárias. Uma língua serve para unir e permitir entendimento, não para fragmentar ou impor códigos que a maioria da população não compreende nem adota naturalmente.
Ninguém é contra o respeito às pessoas. O que está em questão aqui é o uso da língua portuguesa como um patrimônio cultural e funcional. A imposição de termos como “todes” não representa evolução linguística, mas sim uma tentativa de doutrinação que não respeita a estrutura natural do idioma.
Se alguém deseja se expressar dessa forma em espaços pessoais, tem esse direito. Mas querer que isso seja adotado por escolas, documentos oficiais ou veículos públicos é forçar uma realidade paralela — linguística e social.
Declaração de Princípio sobre Linguagem em Ambientes Oficiais
Como conselheiro municipal e profissional comprometido com a ética pública e a valorização da nossa cultura, defendo que ambientes institucionais exigem o uso da norma culta da língua portuguesa, não por pretensões acadêmicas, mas por respeito à nossa cultura, ao nosso idioma, à clareza, à formalidade e à igualdade de compreensão entre os membros.
Não se trata de opinião pessoal, ideologia ou preferência individual. Trata-se de responsabilidade coletiva, transparência administrativa e respeito ao cargo que ocupamos.
Assim como exigimos ficha limpa, conduta ilibada e comportamento ético de quem ocupa qualquer cargo público, também devemos respeitar o idioma como patrimônio cultural e instrumento técnico de deliberação oficial. O uso de uma linguagem correta e objetiva é parte da integridade esperada de cada conselheiro.
Linguagem neutra, gírias excessivas ou deformações gramaticais não devem fazer parte da comunicação oficial de um conselho. Quem desejar utilizar estilos linguísticos alternativos tem todo o direito de fazê-lo em ambientes privados ou informais, mas em um grupo público, a neutralidade se expressa na conduta ética e no respeito a todos — não na imposição de códigos particulares de linguagem.
A qualificação de um conselheiro não se mede por gênero, preferência ou ideologia, mas por excelência, coerência, cultura, comportamento e compromisso com o bem comum.